Nara Lisbôa: fios emendados que tricotam amores.

 

 

Nara Lisbôa: fios emendados que tricotam amores..

Nara Lisbôa já foi publicitária e hoje é cantora e compositora, mas antes de qualquer coisa foi uma menina prendada que muito cedo aprendeu a tricotar. A técnica, ensinada pela mãe, ficou um pouco de lado enquanto a vida teceu rumos diferentes, mas em 2001 o amor pelas agulhas foi recuperado. O local onde esse sentimento voltou à tona não poderia ser mais inspirador: um pequeno vilarejo medieval no interior da França, onde o tricot fait a la main tornou-se instrumento de arte espontânea e muito livre – bem ao estilo de Nara.

Por causa da música, a gaúcha percorreu o mundo. E a cada cidade que visitava, fazia questão de ir às lojas de tricô para adquirir novelos de lã escolhidos aleatoriamente, pelo puro encantamento que despertavam. A relação com esse material era muito próxima, e ficava difícil aceitar as sobras que teimavam em permanecer após a feitura das roupas. A ideia de emendar os fios restantes, criando enormes novelos, foi a solução encontrada por Nara – que viu surgir peças cada vez mais coloridas e únicas. A inspiração? As cores de Frida Kahlo e a desconstrução de Salvador Dalí

 

 

 

 

materiais se misturam e são pistas das andanças da artista: lãs e linhas francesas, inglesas e alemãs, além de uma infindável coleção de retalhos de tecidos. A mistura compõe os novelos, e é partir deles que ela começa o trabalho com cada peça. Sobrepondo  tricô e crochê, Nara criou uma técnica bem particular que resulta em peças absolutamente únicas. Levando em conta o preparo dos fios, já se imagina que é impossível fa

zer duas peças iguais – suspeita que se confirma quando a estilista explica a forma como molda as roupas: “coloco a linha na agulha e a peça vai se criando, sem que eu me prenda a alguma ordem”.

Para o Entremeios, Nara vai mostrar uma coleção de peças que, segundo ela, nunca ficam prontas: “tricotei metade das peças na França e metade no Brasil. São coletes, capas, vestidos e golões, sobre os quais até o último minuto acrescento detalhes”. E ela revela que a maior satisfação é não jogar material fora: “O alívio de não colocar nada fora neste mundo já tão cheio de lixo, aliado à sensação da surpresa de um novelo é um sofrimento cheio de prazeres”. Ela parece feliz por mostrar um trabalho tão minucioso por aqui – algumas peças levam até 300h para serem concluídas: a possibilidade de mostrar meu trabalho no evento já é um selo de qualidade. O que a gente faz só vale a pena se pudermos passar a informação adiante”.

O Projeto Entremeios reúne no Donna Fashion Iguatemi os estilistas gaúchos que são aposta para as próximas estações. Na edição outono-inverno 2012, que começa no dia 28 de março, o público  poderá conferir os trabalhos desses novos nomes na passarela do lounge, de quarta a sábado, sempre às 20h20 e às 21h20 – nos intervalos da passarela principal